domingo, 31 de julho de 2011

O tempo da liberdade

Notas de um diálogo durante um aperitivo com don Luigi Giussani, antes de partir para as férias.

Milão, 5 de junho de 1964

Desde os primeiríssimos dias do Movimento tivemos um conceito claro e simples: tempo livre é o tempo em que a pessoa não é obrigada a fazer nada, não há coisa alguma que se seja obrigado a fazer, o tempo livre é tempo livre.

Como nós discutíamos com frequência com os pais e com os professores, que diziam que GS[1] ocupava demais o tempo livre dos jovens, enquanto os jovens deveriam estudar ou trabalhar na cozinha, em casa, eu dizia: “O tempo livre é muito bom para os jovens!”. “Mas um jovem, uma pessoa adulta”, retrucavam, “é julgado pelo trabalho, pela seriedade do trabalho, pela tenacidade e pela fidelidade ao trabalho”. “Não”, eu respondia, “de jeito nenhum! Um jovem é julgado pela maneira como usa o tempo livre”. Oh, todos se escandalizavam. Mas... se é tempo livre, significa que a pessoa é livre para fazer o que quiser. Portanto, se entende o que a pessoa quer pela maneira como utiliza o seu tempo livre.

Eu entendo o que uma pessoa - jovem ou adulta - realmente quer não pelo trabalho, pelo estudo, ou seja, por aquilo que é obrigada a fazer, pelas conveniências ou pelas necessidades sociais, mas pela maneira como usa o seu tempo livre. Se um jovem ou uma pessoa madura desperdiça o tempo livre, não ama a vida: é tolo. As férias, com efeito, são o tempo clássico em que quase todos se tornam fúteis. Ao contrário, as férias são o tempo mais nobre do ano, pois são o momento em que a pessoa se empenha como quiser com o valor que reconhece prevalecer na sua vida, ou então não se empenha de modo nenhum com nada e então, justamente, é fútil.

A resposta que dávamos aos pais e professores há mais de quarenta anos tem uma profundidade à qual eles nunca tinham chegado: o valor maior do homem, a virtude, a coragem, a energia do homem, aquilo pelo qual vale a pena viver, está na gratuidade, na capacidade da gratuidade. E a gratuidade está justamente no tempo livre que vem à tona e se afirma de forma surpreendente.

* * *

A maneira de rezar, a fidelidade à oração, a verdade dos relacionamentos, a dedicação de si, o gosto pelas coisas, a modéstia na forma de usar a realidade, a comoção e a compaixão para com as coisas, tudo isto se vê muito mais nas férias do que durante o ano. De férias, a pessoa é livre e, se é livre, faz o que quer.

Isto quer dizer que as férias são uma coisa importante. Em primeiro lugar, isto implica atenção na escolha da companhia e do lugar, mas sobretudo tem a ver com a maneira como se vive: se as férias não nos fazem nunca recordar o que mais gostaríamos de recordar, se não nos tornam melhor para com os outros, mas nos tornam mais instintivos, se não nos fazem aprender a olhar a natureza com intenção profunda, se não nos fazem fazer um sacrifício com alegria, o tempo do repouso não cumpre o seu objectivo.

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As férias devem ser o mais livres possíveis. O critério das férias é respirar, se possível a plenos pulmões.

Deste ponto de vista, fixar a priori como princípio que um grupo tenha de passar as férias junto é antes de mais nada contrário ao que foi dito, pois os mais frágeis da companhia, por exemplo, podem não ousar dizer não. Em segundo lugar, é contra o princípio missionário: ir em férias juntos tem de responder a este critério. Seja como for, em primeiro lugar a liberdade acima de tudo. Liberdade de fazer o que se quer... segundo o ideal!

* * *

O que você ganha, vivendo assim? A gratuidade, a pureza do relacionamento humano.

Em tudo isto, a última coisa de que podemos ser acusados é de convidar a uma vida triste ou obrigar a uma vida pesada: seria o sinal de que justamente quem faz as objecções é que é triste, pesado ou macilento. Onde macilento indica uma pessoa que não come e não bebe, por isso não goza da vida. E dizer que Jesus identificou o instrumento, o nexo supremo entre o homem que caminha na terra e o Deus vivo, o Infinito, o Mistério infinito, com o comer e com o beber: a eucaristia é comer e beber - ainda que hoje tão frequentemente seja reduzida a um esquema do qual já não se compreende o significado -. É um comer e um beber: o ágape é um comer e beber. A expressão maior do relacionamento entre mim e esta presença que é Deus feito homem em ti, ó Cristo, é comer e beber contigo. Onde tu te identificas com o que comes e bebes, de modo tal que “mesmo vivendo na carne eu vivo na fé do Filho de Deus” (“fé” quer dizer reconhecer uma Presença).

(traduzido por Durval Cordas)

Amar do lado de cá...

«Realidade paralela: Amar do lado de cá...

No exato momento em que os nossos sentidos experimentam, os nossos pensamentos voam e constroem uma Realidade Paralela...Para isso, necessitahttp://www.blogger.com/img/blank.gifmos abrir mais que os olhos...temos que abrir também o coração...»

Excelente blogue da voluntária Vanessa Almeida, que partiu para ficar ao lado de quem precisa.

Mais um grupo de jovens partiu para Moçambique.
Vão partilhar o seu tempo, o seu amor, os seus conhecimentos,... com outros povos.

Vamos acompanhar com a oração e com mensagens este novo grupo em terras de Boa Nova.

Blogue da voluntária Vanessa Almeida: http://amardoladodeca.blogspot.com/

Página dos Leigos Boa Nova: http://leigos.boanova.pt/

Um bem haja e que Nossa Senhora vos acompanhe.

Missão... é PARTIR...

Missão...é partir...

"Missão...é partir...caminhar...deixar tudo...sair de si
É quebrar a crosta do egoismo que nos fecha no nosso Eu...
Missão é parar de dar voltas ao redor de nós mesmos como se fossemos o centro do mundo, da vida...
Missão é não nos deixarmos bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos. A Humanidade é maior...
Missão é sempre partir, mas não devorar quilómetros. É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los...
E se para os descobrir e amar é necessário atravessar mares e voar pelos céus...então Missão é partir até aos confins do Mundo...!"
(H.C.)

Leigos Boa Nova

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Obrigado, sr. ministro!

por JOÃO CÉSAR DAS NEVES

DN 2011.07.07

Há dias um pobre pediu-me esmola. Depois, encorajado pela minha generosidade e esperançoso na minha gravata, perguntou se eu fazia o favor de entregar uma carta ao senhor ministro. Perguntei-lhe qual ministro e ele, depois de pensar um pouco, acabou por dizer que era ao ministro que o andava a ajudar. O texto é este:

"Senhor ministro, queria pedir-lhe uma grande ajuda: veja lá se deixa de me ajudar. Não me conhece, mas tenho 72 anos, fui pobre e trabalhei toda a vida. Vivia até há uns meses num lar com a minha magra reforma. Tudo ia quase bem, até o senhor me querer ajudar.

Há dois anos vierem uns inspectores ao lar. Disseram que eram de uma coisa chamada Azai. Não sei o que seja. O que sei é que destruíram a marmelada oferecida pelos vizinhos e levaram frangos e doces dados como esmola. Até os pastelinhos da senhora Francisca, de que eu gostava tanto, foram deitados fora. Falei com um deles, e ele disse-me que tudo era para nosso bem, porque aqueles produtos, que não estavam devidamente embalados, etiquetados e refrigerados, podiam criar graves problemas sanitários e alimentares. Não percebi nada e perguntei-lhe se achava bem roubar a comida dos pobres. Ele ficou calado e acabou por dizer que seguia ordens. Fiquei então a saber que a culpa era sua e decidi escrever-lhe. Nessa noite todos nós ali passámos fome, felizmente sem problemas sanitários e alimentares graves.

Ah! É verdade. Os tais fiscais exigiram obras caras na cozinha e noutros locais. O senhor director falou em fechar tudo e pôr-nos na rua, mas lá conseguiu uns dinheiritos e tudo voltou ao normal. Como os inspectores não regressaram e os vizinhos continuaram a dar-nos marmelada, frangos e até, de vez em quando, os belos pastéis da tia Francisca, esqueci-me de lhe escrever. Até há seis meses, quando destruíram tudo.

Estes não eram da Azai. Como lhe queria escrever, procurei saber tudo certinho. Disseram-me que vinham do Instituto da Segurança Social. Descobriram que estava tudo mal no lar. O gabinete da direcção tinha menos de 12 m2 e na instalação sanitária do refeitório faltava a bancada com dois lavatórios apoiados sobre poleias e sanita com apoios laterais. Os homens andaram com fitas métricas em todas as janelas e portas e abanaram a cabeça muitas vezes. Havia também um problema qualquer com o sabonete, que devia ser líquido.

Enfureceram-se por existirem quartos com três camas, várias casas de banho sem bidé e na área destinada ao duche de pavimento (ligeiramente inferior a 1,5 m x 1,5 m) não estivesse um sistema que permita tanto o posicionamento como o rebatimento de banco para banho de ajuda (uma coisa que nem sei o que seja). Em resumo, o lar era uma desgraça e tinha de fechar.

Ultimamente pensei pedir aos senhores fiscais para virem à barraca onde vivo desde então, medir as janelas e ver as instalações sanitárias (que não há!). Mas tenho medo que ma fechem, e então é que fico mesmo a dormir na rua.

Mas há esperança. Fui ontem, depois da missa, visitar o lar novo que o senhor prior aqui da freguesia está a inaugurar, e onde talvez tenha lugar. Fiquei espantado com as instalações. Não sei o que é um hotel de luxo, porque nunca vi nenhum, mas é assim que o imagino. Perguntei ao padre por que razão era tudo tão grande e tão caro. Afinal, se fosse um bocadinho mais apertado, podia ajudar mais gente. Ele respondeu que tinha apenas cumprido as exigências da lei (mais uma vez tem a ver consigo, senhor ministro). Aliás o prior confessou que não tinha conseguido fazer mesmo tudo, porque não havia dinheiro, e contava com a distracção ou benevolência dos inspectores para lhe aprovarem o lar. Se não, lá ficamos nós mais uns tempos nas barracas.

Senhor ministro, acredito que tenha excelentes intenções e faça isto por bem. Como não sabe o que é a pobreza, julga que as exigências melhoram as coisas. Mas a única coisa que estas leis e fiscalizações conseguem é criar desigualdades dentro da miséria. Porque não se preocupam com as casas dos pobres, só com as que ajudam os pobres."

mailto:naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

O mesmo acontece em infantários e ATL!