domingo, 22 de março de 2009

24 de Março - Dia do Estudante



Um pouco de história:

http://www.manuelgrilo.com/rui/artigos/crise.html

António Gedeão



António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho), 1906-1997

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão

Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


António Gedeão

António Gedeão - poeta (1906-1997)

Professor de Química e Física, poeta, investigador, historiador, escritor, fotógrafo, pintor e ilustrador, Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, filho de um funcionário dos correios e telégrafos, José Avelino da Gama de Carvalho e de uma dona de casa, Rosa das Dores Oliveira Gama de Carvalho, que tinha como grande paixão a literatura apesar de contar somente com a instrução primária, nasceu a 24 de Novembro de 1906 na Rua do Arco do Limoeiro (hoje Rua Augusto Rosa) na lisboeta freguesia da Sé. Aí cresceu, juntamente com as irmãs, numa casa modesta e num ambiente familiar tranquilo.

A sua mãe tendo uma grande paixão pela literatura transmitiu esse sentimento ao seu filho Rómulo, assim baptizado em honra do protagonista de um drama lido num folhetim de jornal. Responsável por uma certa atmosfera literária que se vivia em sua casa, é ela que, através dos livros comprados em fascículos, vendidos semanalmente pelas casas, ou, mais tarde, requisitados nas livrarias Portugália ou Morais, inicia o filho na arte das palavras. Desta forma Rómulo toma contacto com os mestres - Camões, Eça, Camilo e Cesário Verde, o preferido - e conhece As Mil e Uma Noites, obra que viria a considerar uma da suas bíblias.

Criança precoce, aos 5 anos escreve os primeiros poemas e aos 10 decide completar "Os Lusíadas" de Camões. No entanto, a par desta inclinação flagrante para as letras, quando, ao entrar para o liceu Gil Vicente, toma pela primeira vez contacto com as ciências, desperta nele um novo interesse, que se vai intensificando com o passar dos anos e se torna predominante no seu último ano de liceu.

Este factor será decisivo para a escolha do caminho a tomar no ano seguinte, aquando da entrada na Universidade, pois, embora a literatura o tenha acompanhado durante toda a sua vida, não se mostrava a melhor escolha para quem, além de procurar estabilidade, era extremamente pragmático e se sentia atraído pelas ciências justamente pelo seu lado experimental. Desta forma, a escolha da área das ciências, apesar de não ter sido fácil, dá-se.

E assim, enquanto Rómulo de Carvalho estuda Ciências Físico-químicas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, as palavras ficam guardadas para quando, mais tarde, surgir alguém que dará pelo nome de António Gedeão.

Em 1932, um ano depois de se ter licenciado, forma-se em ciências pedagógicas na faculdade de letras da cidade invicta, prenunciando assim qual será a sua actividade principal daí para a frente e durante 40 anos - professor e pedagogo.

Começando por estagiar no liceu Pedro Nunes e ensinar durante 14 anos no liceu Camões, Rómulo de Carvalho é, depois, convidado a ir leccionar para o liceu D. João III, em Coimbra, permanecendo aí até, passados oito anos, regressar a Lisboa, convidado para professor metodólogo do grupo de Físico-Químicas do liceu Pedro Nunes.

Exigente, comunicador por excelência, para Rómulo de Carvalho ensinar era uma paixão. Tal como afirmava sem hesitar, ser Professor tem de ser uma paixão - pode ser uma paixão fria mas tem de ser uma paixão. Uma dedicação. E assim, além da colaboração como co-director da "Gazeta de Física" a partir de 1946, concentra, durante muitos anos, os seus esforços no ensino, dedicando-se, inclusive, à elaboração de compêndios escolares, inovadores pelo grafismo e forma de abordar matérias tão complexas como a física e a química. Dedicação estendida, a partir de 1952, à difusão científica a um nível mais amplo através da colecção Ciência Para Gente Nova e muitos outros títulos, entre os quais Física para o Povo, cujas edições acompanham os leigos interessados pela ciência até meados da década de 1970. A divulgação científica surge como puro prazer - agrada-lhe comunicar, por escrito e com um carácter mais amplo, aquilo que, enquanto professor, comunicava pela palavra.

Laboratório de Física do Liceu Pedro NunesA dedicação à ciência e à sua divulgação e história não fica por aqui, sendo uma constante durante toda a sua a vida. De facto, Rómulo de Carvalho não parou de trabalhar até ao fim dos seus dias, deixando, inclusive trabalhos concluídos, mas por publicar, que por certo vêm engrandecer, ainda mais, a sua extensa obra científica.

Apesar da intensa actividade científica, Rómulo de Carvalho não esquece a arte das palavras e continua, sempre, a escrever poesia. Porém, não a considerando de qualidade e pensando que nunca será útil a ninguém, nunca tenta publicá-la, preferindo destruí-la.

Só em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou
conhecimento no jornal, publica, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas Movimento
Perpétuo. No entanto, o livro surge como tendo sido escrito por outro, António Gedeão, e o professor de física e química, Rómulo de Carvalho, permanece no anonimato a que se votou.

O livro é bem recebido pela crítica e António Gedeão continua a publicar poesia, aventurando-se, anos mais tarde, no teatro e depois, no ensaio e na ficção.

A obra de Gedeão é um enigma para os críticos, pois além de surgir, estranhamente, só quando o seu autor tem 50 anos de idade, não se enquadra claramente em qualquer movimento literário. Contudo o seu enquadramento geracional leva-o a preocupar-se com os problemas comuns da sociedade portuguesa, da época.

Nos seus poemas dá-se uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança. Aí reside a sua originalidade, difícil de catalogar, originada por uma vida em que sempre coexistiram dois interesses totalmente distintos, mas que, para Rómulo de Carvalho e para o seu "amigo" Gedeão, provinham da mesma fonte e completavam-se mutuamente.

A poesia de Gedeão é, realmente, comunicativa e marca toda uma geração que, reprimida por um regime ditatorial e atormentada por uma guerra, cujo fim não se adivinhava, se sentia profundamente tocada pelos valores expressos pelo poeta e assim se atrevia a acreditar que, através do sonho, era possível encontrar o caminho para a liberdade. É deste modo que "Pedra Filosofal", musicada por Manuel Freire, se torna num hino à liberdade e ao sonho .E, mais tarde, em 1972, José Nisa compõe doze músicas com base em poemas de Gedeão e produz o álbum "Fala do Homem Nascido".

O professor Rómulo de Carvalho, entretanto, após 40 anos de ensino, em 1974, motivado em parte pela desorganização e falta de autoridade que depois do 25 de Abril tomou conta do ensino em Portugal decide reformar-se. Exigente e rigoroso, não se conforma com a situação. Nessa altura é convidado para leccionar na Universidade mas declina o convite.
Incapaz de ficar parado, nos anos seguintes dedica-se por inteiro à investigação publicando numerosos livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Gedeão também continua a sonhar, mas o fim aproxima-se e o desejo da morrer determina, em 1984, a publicação de Poemas Póstumos.

Em 1990, já com 83 anos, Rómulo de Carvalho assume a direcção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, sete anos depois de se ter tornado sócio correspondente da Academia de Ciências, função que desempenhará até ao fim dos seus dias.

Quando completa 90 anos de idade, a sua vida é alvo de uma homenagem a nível nacional. O professor, investigador, pedagogo e historiador da ciência, bem como o poeta, é reconhecido publicamente por personalidades da política, da ciência, das letras e da música.
Infelizmente, a 19 de Fevereiro de 1997 a morte leva-nos Rómulo de Carvalho. Gedeão, esse já tinha morrido alguns anos antes, aquando da publicação de Poemas Póstumos e Novos Poemas Póstumos.

Avesso a mostrar-se, recolhido, discreto, muito calmo, mas ao mesmo tempo algo distante, homem de saberes múltiplos e de humor subtil, Rómulo de Carvalho que nunca teve pressa, mas em vida tanto fez, deixa, em morte, uma saudade imensa da parte de todos quantos o conheceram e à sua obra.

Fonte: http://www.romulodecarvalho.net/biografia.html

Dia Mundial da Poesia - 21 Março

“Peguem num poema e leiam-no. Não é preciso mais nada.”

Eugénio de Andrade, in Público, 21 de Junho de 2001

14 de Março - Dia Nacional da Poesia
21 de Março - Dia Mundial da Poesia

sábado, 14 de março de 2009

Batalha de Almofadas, Porto

Batalha de Almofadas, Porto

Antes de mais, fala desta batalha de almofadas a todas as pessoas que conheces. Isso inclui amigos e amigas, família e até mesmo o cão do vizinho. A diversão será proporcional ao tamanho da multidão, e para aumentar o tamanho da multidão é preciso espalhar a palavra! Percebes? Por isso, toca a berrar que nem uma senhora do Bolhão!

Para começar, os básicos:
-batalha de almofadas dia 4 de Abril de 2009, às 18h00 em ponto, nos Aliados
-tragam almofadas macias dentro de sacos ou mochilas, apenas as tirando cá para fora a poucos minutos das 18h00. Pontos extra se forem de penas.
-é proibido lutar com outros objetos pesados, assim como armadilhar as almofadas.
-só podes atacar quem tiver almofada, e caso peçam para parar, tu paras.
-a luta não tem hora marcada para acabar, apenas dependendo de nós.
-não deixem as almofadas para trás; temos que deixar o local minimamente limpo

Ok, agora os detalhes: Local, Data e Hora
A luta de almofadas será nos Aliados, no espaço abaixo da “piscina”, às 18h00 do Sábado de 4 de Abril de 2009.
A batalha começará às 18h00 em ponto (podem acertar o relógio pelo do blog), com um sinal sonoro, mas apareçam um pouco antes na zona, e atravessem a rua para o local indicado uns 5 minutos antes.
Quem for atropelado por atravessar a rua à pressa só nos irá estragar a diversão, por isso tenham juízo que se não... levam porrada!

Armamento
Cada soldado levará uma ou mais almofadas macias, escondidas em sacos ou mochilas, só as tirando quando faltarem 5 minutos para as 18h00 (para tornar a coisa mais inesperada a quem estiver de fora).
É estritamente proibido o uso de outras armas e objectos, assim como encher as almofadas de pedras e outras coisas pesadas.
Ganham pontos extra se trouxerem almofadas de penas (imaginem só a atmosfera de uma luta com milhares de penas a voar sobre as nossas cabeças...)

Regras de Combate
Só atacarás quem tiver almofadas, e pararás imediatamente se essa pessoa o assim pedir.
Também é pedido cuidado com quem estiver a fotografar ou a filmar o combate, ou seja, nada de almofadadas no braço que segura a máquina.
As pessoas vão sofrer ataques contínuos e simultâneos, logo não usem força excessiva.
Para quem usa óculos, tragam as lentes de contacto ou esforcem a vista. Caso isso não seja possível, tenham muito mas mesmo muito cuidado.
A batalha não tem hora final. Ela acabará quando acabar. Enquanto houver vontade, haverá guerra!
Mas quando esta acabar, o chão deverá ficar minimamente limpo. Cada um ficará responsável por trazer a sua almofada de volta, ou de deixar os seus restos mortais no contentor mais próximo, com as devidas honras, como é claro. Cada um ficará também responsável por assegurar que as almofadas “orfãs” não ficam no chão.
E que fique claro que não há nenhum significado nesta luta para além de expressarmos o nosso direito de usar os espaços públicos e dar vida a esta cidade. Por isso deixem as políticas e ideologias em casa. Haverá outras ocasiões para as manifestar. Divirtam-se simplesmente, de maneira estúpida e sem sentido :)

Documentação da Batalha
Sintam-se livres de fotografar ou filmar a luta de almofadas, mas tenham cuidado, porque vai haver muita gente com adrenalina a mais nas veias. Como já leram em cima, terão “protecção especial”, mas é impossível assegurar que tudo vá correr bem, por isso protejam as máquinas como se não houvesse amanhã.
Mas não deixem que isto vos desencoraje, porque, acreditem, fotos e vídeos desta luta serão perfeitos para deixar os amigos que não vieram com inveja, além de que vos trarão boas recordações nos anos vindouros.
Ah, e se não for pedir muito, partilhem as fotos e vídeos com o pessoal.
Usem o Flickr e o Youtube, por exemplo, e mandem os links para este blog, para que toda a gente os possa ver!

Encontros com os Media
Caso sejam apanhados por um jornalista, vocês não sabem de nada. Digam que acabaram de comprar uma almofada para a casa e que ao passar pelos aliados decidram-se juntar aos outros. Digam que estavam dormir num dos bancos quando tudo começou. Digam o que disserem, inventem e tenham piada.
Também deverão-se comportar assim com as pessoas “normais”.
E caso alguém diga que não se pode fazer aquilo, saibam que temos direito a juntar-nos em espaços públicos, eles são nossos, afinal de contas. Os tempos de Salazar há muito que ficaram para trás, e é bom que as pessoas saibam isso.

E...
Apareçam, que isto é para ser memorável :)

Fonte: http://invictados.blogspot.com/

domingo, 8 de março de 2009

Uma Grande Mulher

Dia Internacional da Mulher - 8 de Março de 2009

Se os direitos de todos fossem respeitados, principalmente os das crianças e das mulheres, não era preciso haver dias nacionais ou internacionais.

Um caso de amor e coragem no México: